14 de outubro de 2009

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

Alexandre Herculano
“Não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar as minhas opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender”.

Ao lembrar esta citação de Alexandre Herculano assumo que errei em alguns vaticínios dos resultados eleitorais, nos inúmeros textos que foram publicados, ainda que as minhas opiniões se mantenham inalteráveis.

Foi pois sem qualquer surpresa e tal como tinha previsto, nos diversos artigos que escrevi e que o Senhor Carneiro Jacinto fez o obséquio de publicar como Posts, que Isabel Soares e o seu PIS venceram as eleições para a autarquia de Silves, pela quarta vez.

Este desfecho, como já o disse, não constitui surpresa, é a colheita resultante da sementeira que Isabel Soares fez ao longo destes 12 anos (pôs deliberadamente mais de metade dos habitantes do Concelho a dependerem da Câmara). Contudo, havendo vários outros factores que contribuíram para este resultado, hoje, mais que nunca, fica no ar a dúvida se, com outro candidato, o Partido Socialista não teria chegado à vitória.

Debrucemo-nos então sobre os resultados:

PIS + PSD
1. O PIS “coligado” com o PSD, ao alcançar apenas 6.761 votos, perdeu a maioria absoluta.

2. Esta mesma “coligação”, embora no global tenha perdido apenas 690 votos em relação a 2005, para a eleição da Câmara, só perdeu em Messines e para a CDU.

3. Desde 1989 que os laranjas não tinham um resultado tão mau, para a Câmara, naquela Vila.

4. Quem deve estar a rir com a perda de um vereador pelo PIS deve ser José Manuel Alves, pois se o lugar não foi para ele, o “dissidente” do Partido Socialista e Secretário da Junta de Alcantarilha, Jorge Silva, também não vai aquecer a cadeira.

5. Espera-se que esta falta de um vereador a Isabel Soares, para aprovação democrática, das diversas matérias que obrigatoriamente passam pelo plenário da Câmara, não implique a contratação de uma eventual firma de advogados de Lisboa, para negociar, ora com Rosa Palma da CDU, ora com Mário Maximine; não cito Lisete Romão ou Fernando Serpa pois certamente que em quatro anos a senhora presidente já se habituou a negociar com qualquer dos dois: não se deve é esquecer que estamos em crise e que os advogados da nossa praça também têm direito a viver.

6. Em S. B. Messines os 753 votos para a Junta de Freguesia alcançados por Joaquim Gonçalves é o pior resultado do PIS e do PSD desde 1979.

CDU
1. Ao alcançar 3.193 votos a CDU igualou praticamente o resultado de
2005, como que para contrariar as minhas erradas previsões. Confirmou no entanto a minha opinião de que Rosa Palma não significava uma mais valia imediata para a coligação.

2. Mário Godinho, em Silves, que nas duas últimas eleições perdeu 300 votos em cada uma delas, venceu, mas perdeu também a maioria absoluta na “sua” Junta de Freguesia ao obter somente 2297 votos, aliás, a pior votação dos Comunistas na Junta de Freguesia de Silves desde 1979.

3. A grande alegria da CDU e ao mesmo tempo a maior surpresa destas eleições foi sem dúvida a sua grande vitória em S. B. Messines, para a Junta de Freguesia: João Carlos Correia com os seus 1597 votos faz recordar aos Messinensses e aos comunistas os bons velhos anos 80 do Zé da Raquel.

4. Saliente-se que, pela primeira vez, nestes trinta e cinco anos de eleições, a maior votação dos comunistas para a Câmara - 1323 votos – foi em Messines. Silves ficou-se pelos 1137 votos, a sua pior votação dos últimos 30 anos na Freguesia. Desta vez os votos não foram para o PIS/PSD mas sim para o PLR/PS.

BE
1.
Com 1.006 votos ainda não foi desta que o BE e mais concretamente Carlos Cabrita logrou integrar o executivo da Câmara de Silves. Mesmo sem fazer qualquer extrapolação dos resultados das Legislativas confesso que esperava uma maior votação e assumo que também aqui errei nas minhas previsões.
2. O BE ainda conseguiu eleger o antigo Presidente da Junta de Alcantarilha do PSD – Orlando Gonçalves -, como independente, nessa mesma Junta.
3. Mas foi a eleição de Carlos David Marques pelo Be para a Junta de Freguesia de Silves que tem grande relevância pois desse modo fez Mário Godinho da CDU perder a maioria absoluta.
4. Desconhece-se qual vai ser o futuro político do BE em Silves e mais concretamente do seu líder Carlos Cabrita, o qual, ao não ser eleito para a Câmara e ao não integrar a lista para a Assembleia Municipal, onde teve papel de relevo durante os últimos 4 anos, fica de fora em tudo, até parece que foi uma coisa preparada. O lugar do BE na Assembleia, em princípio, vai ser ocupado por Filipe Bárbara, que regressa àquelas funções alguns anos depois, mas por outro partido.

PLR +PS

1. Ainda que a “coligação” se tivesse aproximado do resultado que o PS obteve para eleger José Viseu em 1989, que foram 5.831 votos, não foi suficiente pois só conseguiram agora 5.453.
2. Esta campanha e a candidata não trouxeram nenhuma mais valia ao Partido Socialista uma vez que uma sondagem elaborada, há mais ou menos um ano, dava ao PS uma percentagem de cerca de 34,80% e agora, mesmo com esta “coligação”, a percentagem obtida é apenas de 31,8%.
3. O “desconforto” deste resultado está bem patente nos rostos dos Socialistas e não só, e a observação de que a vitória estava ao seu alcance, com outro cabeça de lista, ouve-se agora por todo o Concelho. (deviam ter pensado bem e facilmente percebiam esse facto).
4. Esta derrota estendeu-se a Messines, onde foram derrotados pela CDU, para a Câmara e onde o Socialista José Vítor viu a Junta de Freguesia fugir-lhe das mãos, também para a CDU.
5. Em Armação de Pêra e como já tinha previsto, o Socialista Luís Ricardo vai ficar mais quatro anos a ver o Fernando Santiago a dormitar nas Assembleias, o que constitui também mais uma derrota para a “coligação”. Há quem diga que com José Casimiro as coisas podiam ter sido diferentes.

CONCLUSÃO

Quase chegado ao final da terceira folha A-4 creiam-me que não está fácil terminar a escrita atendendo às muitas interrogações que estes últimos tempos me colocam, como por exemplo as que aleatoriamente apresento:

a) Vai Isabel Soares aguentar os 4 anos do mandato?
b) Lisete Romão vai pedir a demissão da Concelhia do PS de Silves?
c) Rosa Palma é para continuar ou foi só uma experiência?
d) Acabou-se a política para Carlos Cabrita?
e) Carneiro Jacinto estará na luta daqui a dois ou a 4 anos?
f) Será Ricardo Matos o trunfo para as próximas ou na luta dentro do partido vai aparecer outro jovem a querer o mesmo?
g) O Eng.º Fernando Sequeira depois de ser o nº.2 de Lisete foi corrido e substituído por Fernando Serpa; mandou umas bocas e qual não foi o espanto (para mim) quando aparece nas listas de Lisete para a Assembleia; terá sido para não ficar de fora da corrida nas próximas?
h) Com o final de Isabel Soares daqui a 2 ou a 4 anos acaba-se o PIS ou estarão já a “fabricar” um sucessor da senhora que funcionará como o testa-de ferro do PIS embora com outra sigla?
i) Irá Isabel Soares daqui a 2 anos chefiar o Conselho de Administração da empresa privada de águas e saneamento que andam para aí a tramar, ou vai cuidar das netas e do neto?
j) Vai a professora Manuela Guerreiro aguentar o mandato todo, vai ser ela a bode-expiatório do mandato, ou vão dividir a vereação em dois períodos para contentar também Jorge Silva?
k) Filipe Barbara vai mesmo assumir o lugar na Assembleia Municipal pelo BE ou pelo facto de Carlos Cabrita não ter sido eleito vereador o amigo Filipe vai abdicar?
l) O caso Viga D’Ouro quando terá reinício? E chegará ao fim?
m) Porque teima Isabel Soares em dizer que o caso Viga D’Ouro está em segredo de justiça, se sabe que é mentira? Será porque se convenceu de que uma mentira dita muitas vezes se transforma em verdade?
n) Se a justiça não fosse uma treta em Portugal, apurar-se-ia em 5 minutos que Vítor Rocha e Carlos Sequeira não podem ser os bodes-expiatórios desta história; então e depois Isabel Soares teria que restituir ou não à Câmara o dinheiro gasto com os advogados que estão a defender a senhora e não o Município em tudo isto?
o) Terá algum fundamento dizer-se que se viesse uma inspecção, ou auditoria externa à contabilidade da Câmara Municipal de Silves, ia tudo dentro?
p) Terá fundamento dizer-se que foi o próprio governo PS que travou o processo Viga D’Ouro, porque se assustou quando Mendes Bota exigiu nas rádios a intervenção da PJ e do MP na Câmara de Portimão, quando este caso estava ao rubro e quando dizem que haviam já dois mandatos de detenção para Silves?

Cheguei ao fim da 4ª folha A4 e espero que compreendam que embora não consiga apresentar todas as interrogações que ainda me assaltam o espírito, tenho mesmo de terminar, até para não ser muito mais maçador.

UM ELEITOR

3 comentários:

  1. "n) Se a justiça não fosse uma treta em Portugal, apurar-se-ia em 5 minutos que Vítor Rocha e Carlos Sequeira não podem ser os bodes-expiatórios desta história; então e depois Isabel Soares teria que restituir ou não à Câmara o dinheiro gasto com os advogados que estão a defender a senhora e não o Município em tudo isto?
    o) Terá algum fundamento dizer-se que se viesse uma inspecção, ou auditoria externa à contabilidade da Câmara Municipal de Silves, ia tudo dentro?
    p) Terá fundamento dizer-se que foi o próprio governo PS que travou o processo Viga D’Ouro, porque se assustou quando Mendes Bota exigiu nas rádios a intervenção da PJ e do MP na Câmara de Portimão, quando este caso estava ao rubro e quando dizem que haviam já dois mandatos de detenção para Silves?"

    Terá? Será? Saberei? Saberão? Oh homem, deixe a justiça para os tribunais e viva a sua vidinha sem tentar denegrir a tempo inteiro e a todo o custo a imagem de quem lhe faz dor de cotovelo!

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  2. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  3. Em Fevereiro de 1947, quando, em França, se preparavam eleições, Camus escreveu, no Combat, um texto que dizia: "Sempre que uma voz livre procurar afirmar, sem pretensões, aquilo que pensa, logo uma matilha de cães de guarda, de todas as cores e feitios, começará a ladrar furiosamente, para abafar o eco dessa voz."
    UM ELEITOR

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