19 de outubro de 2009

E P Í L O G O

Como tudo na vida tem a sua duração, o seu tempo, também a minha participação online nos assuntos políticos do nosso Concelho chegou ao fim.
Foram vários os escritos que ultimamente fui alinhavando como sei e pude e agradeço ao Senhor Carneiro Jacinto o obséquio de os ter publicado.
Foram cerca de 6 meses muito interessantes que passei aqui na blogoesfera, mas o ciclo chegou ao fim e é tempo de partir para outra.
Tenho sérias dúvidas em repetir a experiência mas como em tudo o mais, nunca se deve dizer nunca.


UM ELEITOR

14 de outubro de 2009

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

Alexandre Herculano
“Não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar as minhas opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender”.

Ao lembrar esta citação de Alexandre Herculano assumo que errei em alguns vaticínios dos resultados eleitorais, nos inúmeros textos que foram publicados, ainda que as minhas opiniões se mantenham inalteráveis.

Foi pois sem qualquer surpresa e tal como tinha previsto, nos diversos artigos que escrevi e que o Senhor Carneiro Jacinto fez o obséquio de publicar como Posts, que Isabel Soares e o seu PIS venceram as eleições para a autarquia de Silves, pela quarta vez.

Este desfecho, como já o disse, não constitui surpresa, é a colheita resultante da sementeira que Isabel Soares fez ao longo destes 12 anos (pôs deliberadamente mais de metade dos habitantes do Concelho a dependerem da Câmara). Contudo, havendo vários outros factores que contribuíram para este resultado, hoje, mais que nunca, fica no ar a dúvida se, com outro candidato, o Partido Socialista não teria chegado à vitória.

Debrucemo-nos então sobre os resultados:

PIS + PSD
1. O PIS “coligado” com o PSD, ao alcançar apenas 6.761 votos, perdeu a maioria absoluta.

2. Esta mesma “coligação”, embora no global tenha perdido apenas 690 votos em relação a 2005, para a eleição da Câmara, só perdeu em Messines e para a CDU.

3. Desde 1989 que os laranjas não tinham um resultado tão mau, para a Câmara, naquela Vila.

4. Quem deve estar a rir com a perda de um vereador pelo PIS deve ser José Manuel Alves, pois se o lugar não foi para ele, o “dissidente” do Partido Socialista e Secretário da Junta de Alcantarilha, Jorge Silva, também não vai aquecer a cadeira.

5. Espera-se que esta falta de um vereador a Isabel Soares, para aprovação democrática, das diversas matérias que obrigatoriamente passam pelo plenário da Câmara, não implique a contratação de uma eventual firma de advogados de Lisboa, para negociar, ora com Rosa Palma da CDU, ora com Mário Maximine; não cito Lisete Romão ou Fernando Serpa pois certamente que em quatro anos a senhora presidente já se habituou a negociar com qualquer dos dois: não se deve é esquecer que estamos em crise e que os advogados da nossa praça também têm direito a viver.

6. Em S. B. Messines os 753 votos para a Junta de Freguesia alcançados por Joaquim Gonçalves é o pior resultado do PIS e do PSD desde 1979.

CDU
1. Ao alcançar 3.193 votos a CDU igualou praticamente o resultado de
2005, como que para contrariar as minhas erradas previsões. Confirmou no entanto a minha opinião de que Rosa Palma não significava uma mais valia imediata para a coligação.

2. Mário Godinho, em Silves, que nas duas últimas eleições perdeu 300 votos em cada uma delas, venceu, mas perdeu também a maioria absoluta na “sua” Junta de Freguesia ao obter somente 2297 votos, aliás, a pior votação dos Comunistas na Junta de Freguesia de Silves desde 1979.

3. A grande alegria da CDU e ao mesmo tempo a maior surpresa destas eleições foi sem dúvida a sua grande vitória em S. B. Messines, para a Junta de Freguesia: João Carlos Correia com os seus 1597 votos faz recordar aos Messinensses e aos comunistas os bons velhos anos 80 do Zé da Raquel.

4. Saliente-se que, pela primeira vez, nestes trinta e cinco anos de eleições, a maior votação dos comunistas para a Câmara - 1323 votos – foi em Messines. Silves ficou-se pelos 1137 votos, a sua pior votação dos últimos 30 anos na Freguesia. Desta vez os votos não foram para o PIS/PSD mas sim para o PLR/PS.

BE
1.
Com 1.006 votos ainda não foi desta que o BE e mais concretamente Carlos Cabrita logrou integrar o executivo da Câmara de Silves. Mesmo sem fazer qualquer extrapolação dos resultados das Legislativas confesso que esperava uma maior votação e assumo que também aqui errei nas minhas previsões.
2. O BE ainda conseguiu eleger o antigo Presidente da Junta de Alcantarilha do PSD – Orlando Gonçalves -, como independente, nessa mesma Junta.
3. Mas foi a eleição de Carlos David Marques pelo Be para a Junta de Freguesia de Silves que tem grande relevância pois desse modo fez Mário Godinho da CDU perder a maioria absoluta.
4. Desconhece-se qual vai ser o futuro político do BE em Silves e mais concretamente do seu líder Carlos Cabrita, o qual, ao não ser eleito para a Câmara e ao não integrar a lista para a Assembleia Municipal, onde teve papel de relevo durante os últimos 4 anos, fica de fora em tudo, até parece que foi uma coisa preparada. O lugar do BE na Assembleia, em princípio, vai ser ocupado por Filipe Bárbara, que regressa àquelas funções alguns anos depois, mas por outro partido.

PLR +PS

1. Ainda que a “coligação” se tivesse aproximado do resultado que o PS obteve para eleger José Viseu em 1989, que foram 5.831 votos, não foi suficiente pois só conseguiram agora 5.453.
2. Esta campanha e a candidata não trouxeram nenhuma mais valia ao Partido Socialista uma vez que uma sondagem elaborada, há mais ou menos um ano, dava ao PS uma percentagem de cerca de 34,80% e agora, mesmo com esta “coligação”, a percentagem obtida é apenas de 31,8%.
3. O “desconforto” deste resultado está bem patente nos rostos dos Socialistas e não só, e a observação de que a vitória estava ao seu alcance, com outro cabeça de lista, ouve-se agora por todo o Concelho. (deviam ter pensado bem e facilmente percebiam esse facto).
4. Esta derrota estendeu-se a Messines, onde foram derrotados pela CDU, para a Câmara e onde o Socialista José Vítor viu a Junta de Freguesia fugir-lhe das mãos, também para a CDU.
5. Em Armação de Pêra e como já tinha previsto, o Socialista Luís Ricardo vai ficar mais quatro anos a ver o Fernando Santiago a dormitar nas Assembleias, o que constitui também mais uma derrota para a “coligação”. Há quem diga que com José Casimiro as coisas podiam ter sido diferentes.

CONCLUSÃO

Quase chegado ao final da terceira folha A-4 creiam-me que não está fácil terminar a escrita atendendo às muitas interrogações que estes últimos tempos me colocam, como por exemplo as que aleatoriamente apresento:

a) Vai Isabel Soares aguentar os 4 anos do mandato?
b) Lisete Romão vai pedir a demissão da Concelhia do PS de Silves?
c) Rosa Palma é para continuar ou foi só uma experiência?
d) Acabou-se a política para Carlos Cabrita?
e) Carneiro Jacinto estará na luta daqui a dois ou a 4 anos?
f) Será Ricardo Matos o trunfo para as próximas ou na luta dentro do partido vai aparecer outro jovem a querer o mesmo?
g) O Eng.º Fernando Sequeira depois de ser o nº.2 de Lisete foi corrido e substituído por Fernando Serpa; mandou umas bocas e qual não foi o espanto (para mim) quando aparece nas listas de Lisete para a Assembleia; terá sido para não ficar de fora da corrida nas próximas?
h) Com o final de Isabel Soares daqui a 2 ou a 4 anos acaba-se o PIS ou estarão já a “fabricar” um sucessor da senhora que funcionará como o testa-de ferro do PIS embora com outra sigla?
i) Irá Isabel Soares daqui a 2 anos chefiar o Conselho de Administração da empresa privada de águas e saneamento que andam para aí a tramar, ou vai cuidar das netas e do neto?
j) Vai a professora Manuela Guerreiro aguentar o mandato todo, vai ser ela a bode-expiatório do mandato, ou vão dividir a vereação em dois períodos para contentar também Jorge Silva?
k) Filipe Barbara vai mesmo assumir o lugar na Assembleia Municipal pelo BE ou pelo facto de Carlos Cabrita não ter sido eleito vereador o amigo Filipe vai abdicar?
l) O caso Viga D’Ouro quando terá reinício? E chegará ao fim?
m) Porque teima Isabel Soares em dizer que o caso Viga D’Ouro está em segredo de justiça, se sabe que é mentira? Será porque se convenceu de que uma mentira dita muitas vezes se transforma em verdade?
n) Se a justiça não fosse uma treta em Portugal, apurar-se-ia em 5 minutos que Vítor Rocha e Carlos Sequeira não podem ser os bodes-expiatórios desta história; então e depois Isabel Soares teria que restituir ou não à Câmara o dinheiro gasto com os advogados que estão a defender a senhora e não o Município em tudo isto?
o) Terá algum fundamento dizer-se que se viesse uma inspecção, ou auditoria externa à contabilidade da Câmara Municipal de Silves, ia tudo dentro?
p) Terá fundamento dizer-se que foi o próprio governo PS que travou o processo Viga D’Ouro, porque se assustou quando Mendes Bota exigiu nas rádios a intervenção da PJ e do MP na Câmara de Portimão, quando este caso estava ao rubro e quando dizem que haviam já dois mandatos de detenção para Silves?

Cheguei ao fim da 4ª folha A4 e espero que compreendam que embora não consiga apresentar todas as interrogações que ainda me assaltam o espírito, tenho mesmo de terminar, até para não ser muito mais maçador.

UM ELEITOR

9 de outubro de 2009

MINHA ÚLTIMA REFLEXÃO

No mundo civilizado que é tão pequeno como o nosso Concelho, vota-se naqueles em que se acredita. Em Silves, também se vota pelas mais diversas razões, menos pelo motivo que atrás se apontou. À semelhança do que acontece na generalidade do País, este é o defeito de um Concelho que não se habituou ainda a distinguir entre conveniência e convicção. A quantos conveio a gestão Comunista e Socialista? Não foi tão grande como isso a diferença, basta atentar nas várias votações Autárquicas do PS e da CDU. E, a quantos conveio e convém uma gestão PSD e PIS? Bem, se foi e é para gerir a Câmara e o Concelho como tem feito até aqui então, não são necessárias mais palavras pois os resultados estão à vista.

Dizia-nos Isabel Soares, antes de 1997, embora por outras palavras, que precisávamos de acreditar mais intensamente, que nos fazia falta uma fé mais firme mais profunda e circunscrita. Fé no Concelho de Silves e no que se propunha fazer. Porém, passados quase 12 anos, o que agora e antes de mais nada necessitamos é de nos desenganarmos, de nos desiludirmos. O que mais nos aflige não é o que não fizemos e não fizeram no Concelho de Silves, mas sim no que não substituímos no Concelho de Silves. Padecemos, primordialmente, não por causa dos vícios dos nossos governantes, das suas fraquezas ou incompatibilidades. Tolhem-nos, não as realidades tristes que existem na nossa Câmara e no nosso Concelho, mas aquelas imagens que colocámos no lugar das realidades.

Silves e a sua Câmara continua tornado num Concelho confuso e promíscuo em que quase nada choca ou surpreende sequer, em que nem sequer se respeitam as aparências. Tal como em muitos outros lugares a política e os princípios carecem de utilidade para os fins eleitorais, só que nesses muitos outros lugares os resultados são bem diferentes dos alcançados entre nós. As coisas não andavam nem andam. E tendem a piorar porque os programas e políticas que tínhamos, que agora temos, ou que nunca tivemos não dão rendimento.

Silves e o seu Concelho está como está, não porque o seu povo tenha fracassado, mas sim porque os seus leaders falharam.

Aquilo de que Silves precisa é de leaders que possam comparar-se com a grandeza do seu povo.

UM ELEITOR

7 de outubro de 2009

PENÚLTIMA REFLEXÃO

Quando estamos a poucos dias das eleições autárquicas, quero ainda deixar aqui algumas notas. Digamos que é a minha penúltima reflexão sobre o acto do próximo Domingo.


Sobre os candidatos algumas frases:

ROSA PALMA da CDU
“Há homens e mulheres que são como as velas; sacrificam-se para dar luz aos outros”. (Padre António Vieira).

LISETE ROMÃO do PLR
“Não há absolutamente ninguém que faça um sacrifício sem esperar compensação. É tudo uma questão de mercado”, disse certo dia “Cesare Pavese”.

Sobre a sua entrevista na Rádio Algarve FM e a suas palavras de que vai ser a próxima Presidente da Câmara de Silves diria “Georges Clemenceau” – “Não perturbemos o homem ou mulher que substituiu a vida por um sonho”. E “André Chamson acrescentaria – “Pode misturar-se a esperança e o desespero até já não se distinguirem um do outro”.

Sobre a sua teimosia em querer ser Presidente diria “Laurence Sterne” – “Chama-se perseverança quando é por uma boa causa, obstinação quando é por uma causa ruim”.

CARLOS CABRITA do BE
“Para atingir o ponto mais alto, tem de se começar pelo mais baixo”, como disse um dia “Siro”.
Já “Walter Scott” escreveu – “Para o êxito, a atitude é tão importante como a capacidade”.

ISABEL SOARES do PIS
Sobre a Obra Feita que apregoa diria “Séneca” - “Que se cale aquele que fez um benefício. Que o divulgue aquele que o recebeu”. Acrescentaria aqui “Balzac” – “Deve-se deixar a vaidade aos que não têm outra coisa para exibir”.

Sobre as suas palavras de que a Câmara nunca esteve tão bem e de que as contas da Câmara estão agora em ordem diria “Bismarck” – “Nunca se mente tanto como em vésperas de eleições, durante a guerra e depois da caça”. O Padre António Vieira diria também – “Para não mentir, não é necessário ser santo, basta ser honrado, porque não há coisa mais afrontosa, nem que maior horror faça a quem tem honra, que o mentir”. Ainda a propósito diria “Henri Régnier” – “As mulheres mentem bem porque, ao mentirem, quase se convencem de que estão a dizer a verdade”.

Sobre a popularidade da senhora diria “Óscar Wilde” – “Para se ser popular é preciso ser-se uma mediocridade”.

PROGRAMAS

O eleitor desconfia da maior parte dos programas; não apanha pormenores; e a motivação política de muitas afirmações provoca, geralmente, a sua irritação. O interesse dos programas não está nos pormenores, mas sim nas directrizes, nos potenciais e, novamente, nas prioridades. Realismo quanto ao que deve fazer-se, análise inteligente no que diz respeito a como devemos mover-nos e porquê, e confiança em que será feito quanto seja indispensável fazer-se.
Consciente ou inconscientemente, sabem os candidatos e sabem os eleitores que no Concelho de Silves a matéria-prima está disponível. Existem ideias, dados, técnicos. O que faz falta é um liderato que forje os materiais conseguir que a máquina criadora da vida silvense actue para empurrar o concelho para a frente. Porém, não existe uma máquina económica. Os recursos concelhios não abundam.

Em relação a tudo isto e olhando para os Programas que os candidatos apresentam para o concelho, tenho que afirmar que não têm o suficiente impacto potencial para justificar uma consideração séria.
Todos dizem, prometem, fazer tudo e mais alguma coisa. Mas fazer com que dinheiro?

Como que a gozar com tudo isto e com todos, até o capítulo de “Actividade Económica” do deplian de apresentação do programa de Isabel Soares está repetido.



ENTREVISTAS NA RÁDIO

Antes do mais quero salientar a inocência, a falta de ratice política dos candidatos que embarcaram nesta de entrevistas, todos de seguida, na rádio, sem um prévio sorteio. Resultado ...Isabel Soares, logicamente, foi entrevistada em último lugar.

As entrevistas aos candidatos à presidência da Câmara, nem merecem comentários. Como se esperava, não vieram trazer nada de novo. Repetiu-se a história da montanha a parir um rato. Penso também que tudo já estava mais que decidido há bastante tempo e que estas entrevistas mais não são que cumprir o protocolo das campanhas.
A única novidade, que para mim foi a confirmação do que saliento na frase acima, residiu na presença de Rosa Palma. Carlos Cabrita e Lisete Romão ainda que mais desenvoltos que em 2005, estiveram iguais a si próprios. Isabel Soares, a presidente, que sabe ir continuar como tal (pelo menos nos próximos 2 anos), debitou o que lhe apeteceu sobre os vários temas que lhe foram apresentados e a mais não era obrigada, face aos candidatos opositores, os quais se percebe não lhe provocarem qualquer desconforto, para não dizer outras coisas.

As entrevistas-debate entre os candidatos a cada uma das Juntas de Freguesia, como tem sido habitual, foi mais do mesmo. Salvo raras excepções, ressalta a falta de preparação e o desconhecimento das realidades de cada uma das freguesias, por parte dos novos candidatos, em contraste com os actuais Presidentes. Digamos que os partidos apresentam os seus candidatos, “só porque têm de fazê-lo”. E, não fôra Armação de Pêra onde o “pachorrento” Fernando Santiago atravessou alguma dificuldade no confronto com Luís Ricardo, o que lhe poderá valer a reeleição; em S. B. Messines, em que nem a arrogância, nem a sua voz de rico do Comandante dos Bombeiros (não é o bombeiro, como um dia salientou) conseguiram abanar as orelhas do determinado José Vítor que vai certamente continuar no seu posto; e o debate de Silves onde Mário Godinho “passeou a sua classe” frente a um pretenso snob chamado João Lourenço e frente ao miúdo Luís “Banheiras”, tudo o mais é para esquecer, com a reeleição dos actuais detentores dos cargos.

Um Eleitor

1 de outubro de 2009

VIGA D'OURO - A RESPONSABILIDADE E A CULPA

Embora tivesse já tido vontade, por várias vezes, de abordar este tema apelidado de “Caso Viga D’Ouro”, razões da mais diversa natureza aconselharam-me a aguardar pela “oportunidade” de o fazer até porque, como disse e muito bem NIETZSCHE –“Quando por acaso a verdade conseguiu vencer, perguntai a vós próprios com uma forte desconfiança; “Que poderoso erro se bateu por ela?”.

Hoje, quando constato haver pessoas “e interesses” em trazer à baila o assunto, chega-me às mãos um bem elaborado texto versando o tema “a responsabilidade e a culpa”, o qual, após fazer ligeiríssimas adaptações, excepcionalmente, apresento-o aos Silvenses para reflexão.

Em Portugal confunde-se a responsabilidade com a culpa. A primeira é vaga e impessoal, a segunda costuma morrer solteira. O que se passou (e passa) na Câmara Municipal de Silves com o caso Viga D’Ouro por evidentes más práticas é paradigmático. Sabemos que errar é humano e sabemos que o erro não tem as mesmas consequências, uma das formas de avaliar a sua gravidade. Na gestão da coisa pública, todos os erros são graves e por isso mesmo devem absolutamente ser evitados. Para isso servem os procedimentos, os protocolos, as normas de controlo. Uma Câmara é como uma complexa linha de produção e para todos os actos praticados, concorrem diversos técnicos de diferentes serviços cujas competências e atribuições estão, à partida, perfeitamente definidas, e em cada segmento dessa linha de produção devem existir mecanismos seguros de verificação dos procedimentos obrigatórios.

Assim, quando um erro é cometido, pode-se inferir que a culpa (negligência, má prática, o que seja) é de um determinado serviço, mas a responsabilidade é da Câmara, que não é um mero edifício, mas uma organização com uma natureza jurídica própria que responde, no seu conjunto, pelos serviços que presta e os actos que pratica. É por isso mesmo que uma Câmara tem uma cadeia de comando, hierarquias que definem não apenas os níveis de responsabilidade como um modelo orgânico teoricamente adequado à melhor complementaridade das múltiplas funções e dos inúmeros actos que concorrem para o resultado final.

Posto isto, seria legítimo esperar que desde o primeiro momento o executivo camarário tivesse vindo a público assumir a responsabilidade do ocorrido, face aos funcionários, às forças políticas do concelho e à opinião pública, independentemente de se accionarem todos os procedimentos necessários, internos e externos, para o apuramento dos factos. Assumir responsabilidades é a parte mais incómoda do estatuto de quem manda, mas convém não esquecer que os lugares de topo só existem porque é preciso identificar fora e dentro da instituição quem a representa e quem são os seus responsáveis máximos.

O que vimos, estupefactos, ou talvez não, foi precisamente o contrário: uma novela com todos os condimentos, um passar de culpas, um pacote permanentemente sacudido. Algo gravíssimo porque uma Câmara Municipal deve assentar na confiança.

Mais preocupante é o facto de até agora, e a propósito desta tristíssima ocorrência, tudo parecer estar na mesma, ainda que se saiba que o caso está nas mãos do Senhor Procurador Geral da República.

A terminar um único pensamento sobre o comportamento do executivo camarário em todo este caso:

CONFÚCIO
“O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros”.